“Oi,
tudo bem? Tenho 15 anos de idade e tenho tido muitas brigas com meu pai. Depois
das brigas sinto vontade de chorar até morrer. Ele sabe que eu sempre ajo dessa
forma e parece que não se preocupa com o que eu faço. Ele diz que me ama,
mas sei que sou um peso na vida dele. Minha mãe tenta me convencer de que ele
me ama só que eu não acredito. Não agüento mais morar com eles. Meu pai não se
importa quando dou os meus “ataques” dentro de casa. Há pouco tempo pintei a
metade do cabelo de rosa. Minha mãe disse que ficou “uma gracinha”... Meu pai
disse que eu deveria colocar uma placa na testa escrito “sou ridícula”. Já até cortei
meus braços e pernas com gilete e com a ponta da tesoura. Estou me sentindo
muito infeliz e ainda tenho as cicatrizes dos cortes que me lembram o quanto sofri
e ainda sofro. Vou morar com meus pais até 18 anos, mas às vezes acho que não
vou agüentar até lá. Fico o tempo todo sozinha no meu quarto ouvindo musica...
O que que eu faço da minha vida?”
Ao
contrário do que parece, a adolescência não é um período fácil da vida. É
necessário que a infância seja deixada para trás para que um período repleto de
mudanças possa iniciar. O próprio corpo, os interesses, as motivações. Tudo
muda. Além do impulso rumo ao amadurecimento e à novas expectativas, há também
a insegurança de sair da condição de criança dependente para criar uma
identidade. Portanto, muito se perde para a conquista da maturidade e de um
lugar no mundo. E cada vez que se perde alguma coisa na vida é necessário viver
um luto, que corresponde ao entendimento e aceitação da perda. Em primeiro
lugar, luto pelo corpo infantil que sofre mudanças, sensações e causa
estranheza. Depois deve ser vivido o luto de um comportamento primário que
agora exige outro tipo de atitude frente ao grupo de amigos. E todo esse
confronto não acontece de uma hora para outra. O adolescente se apresenta com
uma variedade de comportamentos instáveis e, muitas vezes, contraditórios.
Outro
fator de extrema importância nesse período é o correto entendimento de que os pais também enfrentam dificuldades para aceitar o novo período na vida do filho
e a nova imagem que acompanha o adolescente. Uma nova pessoa que desperta para
a sexualidade. Muitas vezes isso tudo provoca uma grande revolução na família
pela falta de aceitação dos pais em perceber as mudanças físicas e de
comportamento. Os filhos agora possuem opinião e lutam por fixar sua nova
identidade. Os pais também devem iniciar um processo de luto. Para eles,
desprender-se do corpo infantil do filho e aceitar o fato de que a vida puxa o
jovem para a entrada no mundo adulto representa a evolução de suas próprias
vidas. É o reconhecimento da proximidade da velhice e da morte. Muitas brigas em casa acontecem pela
falta de aceitação dos pais em entender o processo de amadurecimento e
independência dos filhos.
O
seu email, minha querida jovem, é o grito de socorro de alguem que sente-se sozinha e não sabe o
que fazer para suportar as exigências e as mudanças internas e externas que a vida
tem lhe imposto. Seus pais não conseguem perceber o que vem acontecendo à você.
Pelo que você relata parece que eles têm dificuldade em ver que o tempo está
passando e você cresceu.
Você
deve buscar uma psicoterapia. Se eles não derem importância ao
seu pedido procure uma solução no seu colégio. Fale com a coordenadora
pedagógica ou com a psicóloga, se houver, e solicite um encaminhamento para o
profissional que o colégio indicar. Isso terá que ser feito com a autorização
de seus pais, portanto peça ao colégio que os convoquem para uma conversa a seu
respeito.
Espero ter lhe ajudado.
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