Existe uma grande dúvida em relação ao fato de um filho visitar ou não o pai na prisão. Podemos ampliar aqui os representantes dessa delicada questão trazendo também a possibilidade de ser uma filha e de o prisioneiro vir a ser a mãe da criança. O sofrimento é latente em todos os que estão envolvidos de forma direta ou indireta. O aprisionamento se estende inviabilizando o convívio de forma integral fazendo-os passar por uma prova diária de paciência, limitação e resignação.
Além da dor materna em perceber a privação da relação entre pai e filho ainda existe a preocupação de tornar esse convívio encarcerado em uma experiência menos dolorosa e mais carregada de esperança. Além da dor, a mulher tem a preocupação inconsciente de uma boa identificação do filho em relação ao pai apesar do cenário apresentado parecer contrário à uma correta identificação.
Um filho deve visitar o pai na prisão, sim. Aquele homem tão carregado de defeitos e aqui não vou me estender muito nessa questão pois não me compete julgar ou qualificar o ato cometido e sim a relação entre pais e filhos, que sob o peso de inúmeras falhas e débitos com a sociedade não tem o demérito de pai. Ele se mantém respeitável e capaz para seu filho apesar de todas as circunstâncias indicarem o contrário. O pai pode e deve participar da forma que lhe for possível da vida diária da criança, como por exemplo com as tarefas escolares.
É necessário que o filho saiba dos fatos de forma simples, imparcial e na medida correta de sua maturidade emocional e psicológica pois só dessa maneira terá condições de elaborar qualquer sentido ou julgamento sobre os acontecimentos. Por outro lado as visitas poderão ajudar o pai a suportar a vida na prisão e criar sua própria imagem à partir de uma nova avaliação de suas ações. A figura do filho o convoca à uma outra realidade responsabilizando-o por sua vida e pela vida de outros. À medida em que ele enfrenta essa demanda infantil, consegue também enxergar suas questões mais primitivas.
É fundamental que antes da primeira visita seja explicado à criança o que é uma prisão. Sem exagero de detalhes, sem fantasias. Simplesmente informando que se trata de um universo diferente ao que ela está acostumada a ver.
Um adulto talvez não tenha a correta dimensão, mas o presídio é para a criança um mundo impressionante e muitas vezes incompreensível. E com a proximidade do dia da visitação deve ser perguntado à criança se deseja ir visitar o pai. É muito importante que ela tenha o desejo de visitá-lo e nunca ser recriminada caso não queira ir. Assim como não deve ser forçada à isso. Ela tem os seus motivos e deve estar sofrendo em ter que dizer não.
Nos dias que se sucederem à visitação, no intervalo entre uma visita e outra, fique atenta ao comportamento da criança e ao que ela irá lhe dizer. Não faça muitas perguntas, não force nada. Ela está tentando entender um milhão de coisas. Às vezes as crianças se sentem bem aliviadas e mais tranqüilas, para grande surpresa dos adultos. O mais importante é o diálogo, sempre. Toda essa questão é bastante complexa e exige muita coragem e força. Se encontrar alguma dificuldade nesse percurso procure ajuda profissional.