13 de janeiro de 2010

Diferenças


Em um grupo que conversava sobre viagens, perguntaram-me em qual lugar moraria caso estivesse fora do Brasil. 
- Alemanha, respondi. 
- Por quê? 
E dei minhas justificativas a respeito do que me agrada naquele país. 
Um dos presentes respondeu: 
- Não moraria lá de jeito nenhum! Terra de nazistas! - referindo-se ao maior psicopata da História da Humanidade e autor do maior genocídio de todos os tempos. Na verdade sua nacionalidade era austríaca e sabemos que um enorme contingente de seu exército era formado por alemães. Mas o povo alemão se envergonha desse momento do passado. E eu devo obviamente entender a revolta do meu interlocutor. No entanto se tomarmos o raciocínio do meu amigo como correto, poderíamos supor a inexistência de cristãos no mundo, pois a Inquisição foi outro desastroso momento de extermínio em massa executado, dessa vez, pela Igreja. 


De fato, tudo isso mostra uma total falta de informação revelando, o que na verdade importa, o que o sujeito carrega dentro de si. O preconceito. As pessoas parecem contaminadas por esse mal e nem sabem o porquê. São vítimas de uma cilada massificadora? Talvez. 


Parece não existir nada plausível que justifique esses pensamentos ou ações e infelizmente esses grupos ainda podem ser encontrados em qualquer lugar, aqui ou lá. E matam pelo mesmo impulso. Da mesma maneira que se matam índios, mendigos, homossexuais, crianças ou espancam-se domésticas negras ou brancas. Há pouco tempo também são alvo de ódio coletivo os muçulmanos, evangélicos, chineses e outros tantos grupos. 


O preconceito existe por conta do desejo de aniquilar o outro. 


Uma vez atendi um jovem adolescente, classe média/alta que afirmava não gostar e, segundo ele, ter “até uma certa implicância”, como ele mesmo disse, em relação à um novo colega de classe que era negro. Perguntei: “Mas o que ele fez à você?” Ele me respondeu: “Nada. Puxei ao meu pai. Não gosto de judeu e negro.” Podemos afirmar então que o preconceito, a nível consciente, é injustificável. É um germe que parece ainda sobreviver pelo desejo do sujeito em ser contaminado. Aparece como algo mortífero. Socialmente hereditário. 


O preconceito é um grande impedimento das relações em todo o mundo. Tanto para o sujeito preconceituoso quanto para a vítima do preconceito. Cristaliza o sujeito, impedindo-o de desenvolver sua criatividade, limita seu raciocínio, suas ações, destrói a espécie. Portanto é a maior prova do quanto o ser humano é capaz de maltratar o outro. Piegas?? Pode até parecer. Mas MUITO verdadeiro. 




Existe uma frase popular que diz: “O homem é o único animal que destrói o seu semelhante.” Simples e verdadeiro. Esse sintoma aparece na atualidade como um traço de caráter revelando um sujeito autocentrado, narcísico, acreditando ser melhor do que o outro. Que consegue formar um grupo de muitos amigos. Todos virtuais, pois a cada vez que precisa conviver com a diferença terá que colocar à mostra as raízes de sua imperfeição e limitações. Como diria o meu conhecido, “terra de nazistas”. Sim, é verdade. Toda violência, pensada dessa forma, é nazista em qualquer lugar, pois sugere a intolerância à diferença em doses letais. Se o outro é melhor ou pior, não é disso que se trata. Mas o ódio ao outro revela o que de fato não suportamos dentro de nós mesmos. “Ele tem o que eu não tenho” ou “ele tem algo que era suposto ser exclusivo meu”. Essa presença intolerável já havia sido escrita por Freud em 1929 em Narcisismo das Pequenas Diferenças e confirma-se ao longo da História da Humanidade. Ainda nos dias de hoje grupos se reúnem para canalizar a violência contra o corpo do outro de forma predatória revelando a pobreza que não suportam em si mesmos.