8 de agosto de 2009

Adoção




Muito se tem mostrado sobre a adoção na atualidade. Uma febre fashion que parece ter contornos bastante próprios à uma minoria onde são excluídos seus entraves subjetivos. Tudo como fator compensatório para a realização de um desejo.

O que leva uma pessoa a querer agregar à sua própria vida um outro desconhecido que irá depender integralmente dentro de um processo dramático bastante diferente do que é anunciado? A adoção marca a vida de todos os envolvidos no processo muitas vezes de forma mais intensa e dolorosa que as dores do parto. Ao contrário dos manuais de conduta e averiguação das possibilidades de quem adota, os inúmeros motivos que levam à adoção são os que certamente mais interferem nessa difícil relação. Brevemente destacarei duas formas de luto como possibilidade para a decisão da adoção. Como substituição de um filho biológico que não virá em decorrência da esterilidade do casal ou de um dos parceiros e como tentativa de superação do luto de um filho morto buscando na adoção a possibilidade de "dar a luz" novamente.

A ferida narcísica de um casal frente à impossibilidade de se realizarem pela concepção biológica conduz à decisão da adoção como saída para a relização de um desejo. Porém um emaranhado de sentimentos irá permear a triangulação. Vivendo à sombra da lembrança da impossibilidade biológica do casal, o adotado também poderá promover a cessação de uma infertilidade transitória.

Em outros casos a adoção surge como possibilidade de substituição de um filho morto criando uma constante comparação e possível ódio inconsciente em relação ao adotado fazendo com que lhe seja impossível corresponder à uma forte demanda dos pais adotivos. Uma modificação do Ideal do Ego se faz necessária no desejo da adoção. Sentimentos inconscientes de culpa em memória ao filho morto e a ameaça de perda do filho adotado frente à fantasia de ressurgimento dos pais biológicos podem dificultar a relação dos pais nesse processo.

Um filho na maioria das vezes representa a extensão de uma relação, o desejo mútuo de prolongamento dos vínculos e troca biológica do casal dando continuidade à esses afetos. A filiação simbólica faz parte do processo da construção subjetiva de cada um e não somente daqueles envolvidos biologicamente fazendo então com que a adoção seja possível e venha a criar fortes laços parentais mediante cautela e conhecimento do lugar que o filho irá ocupar no desejo do casal.