10 de dezembro de 2009

O tímido



Costuma-se dizer que o tímido é aquele que não tem autoestima, não se valoriza. Ou que é antipático e não “se dá” com ninguém. Ou então não é muito inteligente, social, atraente... E, portanto, se retrai e não interage com o grupo. Com nenhum grupo. Alguns tímidos vivem uma realidade paralela com o mundo virtual. A internet cria uma nova modalidade de relacionamento que funciona ilusoriamente como facilitadora das relações e, na contra mão, potencializa a dificuldade do tímido.

Cada um tem suas próprias razões para justificar uma dificuldade, mas, de uma forma geral, o tímido sofre com a possibilidade de se expor, ser julgado e, nessa fantasia, condenado pelo ato mais inofensivo.

O medo transbordante se apresenta com palpitação, suor, rubor, calor, frio e, algumas vezes, desmaio. A exposição e a possibilidade de fracassar ou ser ridicularizado fazem com que o tímido mantenha-se engessado nessa condição. Sofrendo por antecipação, consegue criar fantasias em que se coloca de forma inferiorizada ou humilhante. Em geral possui um (a) amigo (a) que lhe serve de “contato com o mundo” evitando que iniciativas sejam tomadas e, portanto, situações de avaliação ou julgamento não ocorram.

Ele é capaz (e muito!) por conta de seu isolamento ter um grande conhecimento em assuntos variados e, no entanto, ser considerado aquém de suas reais possibilidades em virtude do seu recolhimento e do medo em ser percebido pelos outros. Quando em idade escolar tiram notas muito acima da média e alcançam excelentes colocações em vestibulares e concursos.
São os “nerds”.

Afirmar que o tímido é um covarde seria uma forma reducionista de perceber um conflito que pode evoluir para uma condição mais grave. Ele se resguarda porque já sofreu com a represália, o repúdio e sabe o quanto doeu e ainda dói mesmo que inconscientemente. Tudo aquilo retorna como algo conhecido e, então, trava uma guerra interna desejando dar um passo à frente sem conseguir. A psicanálise é um recurso que tenta desdobrar as diversas atitudes atribuídas à um sujeito atrelado em um mundo repleto de resistências.