18 de janeiro de 2010

Dúvida





“Resolvi escrever para tirar uma dúvida. Não sei se é verdade, mas a psicologia explica porque o filho mais velho sofre em certos aspectos? Será fruto da inexperiência dos pais? Tenho um irmão mais novo. Pessoas que acabam de nos conhecer tem a impressão de que sou mais novo que ele. E é exatamente o contrário. Não sei se na aparência ou no comportamento. Sou mais expansivo e ele é mais fechado. Já ouvi várias vezes coisas do tipo ‘nossa, pensei que ele fosse o mais velho e não você.’ E, de alguma forma, isso me incomoda demais. Quando era mais novo fui muito tolhido. Tudo o que eu queria fazer (de saudável, é claro) recebia um não. Não tinha apoio quando ia tomar uma decisão. O não era uma resposta certa. Fui crescendo assim. Por isso sou muito inseguro na hora de tomar decisões. Ao contrário do meu irmão mais novo.”
 

Você não informa a sua idade e a de seu irmão. Tampouco a dinâmica familiar, ou seja, se você e seu irmão são filhos dos mesmos pais. Tem outros irmãos? Os pais viviam juntos ou trocaram de parceiros quando você e seu irmão eram pequenos? Diante da escassez de informações vamos olhar somente a situação relatada.

Na infância a relação de dependência dos pais é natural e necessária. A criança deve ser introduzida ao mundo e cabe aos pais nomear tudo o que a cerca. Inicia-se, portanto, um longo aprendizado que continuará de forma independente por toda a vida. Em algum momento essa atenção exclusiva teve que ser dividida com a chegada de um irmão. Esse momento é crucial para o mais velho, pois lhe será apresentada uma nova realidade durante a gestação: “esse é o seu irmãozinho”, “ele também é seu”, “você vai cuidar dele também”. Coisas assim.

Quando nasce um irmão, toda criança sente ciúmes, o que é bastante natural e não há nada de perturbador nisso. Ela é acometida por um sentimento de perigo e, portanto, sente-se ameaçada. A criança, confusa, reage à essa realidade identificando-se com o recém chegado e regride comportando-se como um bebê com o objetivo de resgatar a atenção exclusiva que lhes era destinada anteriormente. Cabe aos pais ajudar a criança à superar esse momento de dificuldade proporcionando acolhimento e adotando uma postura compreensiva em relação ao filho mais velho. A respeito dos ciúmes, esse tipo de conflito tende a se resolver na infância. Superado isso, a criança retorna ao seu desenvolvimento pessoal.

Algumas vezes, mesmo com o passar dos anos, o filho mais velho sente-se ameaçado, tem medo de crescer. Um comportamento expansivo pode revelar um desejo inconsciente de permanecer criança e resgatar o que acredita lhe foi tirado como amor, proteção, exclusividade, impedindo-o de situar-se no presente. O ciúme é a única possibilidade de comunicação devido à falta de entendimento sobre o que, de fato, acontece com você.

Todo casal é inexperiente em relação ao primeiro filho. E em relação aos próximos também. Cada filho é de um jeito, é diferente do outro. É único.

Porque será que tudo o que você queria fazer tinha um não como resposta? Será que o seu comportamento correspondia à sua idade? Ou será que o seu ‘comportamento expansivo’ era traduzido pelos seus pais como imaturidade e lhe davam uma negativa para protegê-lo? Porque você precisava da aprovação deles para fazer algo que, de antemão, considerava ‘saudável’, mesmo sabendo que receberia um não como resposta? Responsabilizar-se pelos próprios atos inofensivos e saudáveis mesmo que venham a ser um sucesso ou um fracasso pode ser um bom começo. O filho mais velho quer a atenção que lhe é devida, quer o amor dos pais. De fato, você está no lugar de filho mais novo, porém guardar ressentimentos contra os pais ou sentir-se perturbado quando não o reconhecem como primogênito não o ajudará a lutar pelos seus direitos de viver de forma madura e responsável.