23 de março de 2010

Tenho 15 anos e me odeio


“Oi, tudo bem? Tenho 15 anos de idade e tenho tido muitas brigas com meu pai. Depois das brigas sinto vontade de chorar até morrer. Ele sabe que eu sempre ajo dessa forma e parece que não se preocupa com o que eu faço. Ele diz que me ama, mas sei que sou um peso na vida dele. Minha mãe tenta me convencer de que ele me ama só que eu não acredito. Não agüento mais morar com eles. Meu pai não se importa quando dou os meus “ataques” dentro de casa. Há pouco tempo pintei a metade do cabelo de rosa. Minha mãe disse que ficou “uma gracinha”... Meu pai disse que eu deveria colocar uma placa na testa escrito “sou ridícula”. Já até cortei meus braços e pernas com gilete e com a ponta da tesoura. Estou me sentindo muito infeliz e ainda tenho as cicatrizes dos cortes que me lembram o quanto sofri e ainda sofro. Vou morar com meus pais até 18 anos, mas às vezes acho que não vou agüentar até lá. Fico o tempo todo sozinha no meu quarto ouvindo musica... O que que eu faço da minha vida?”

Ao contrário do que parece, a adolescência não é um período fácil da vida. É necessário que a infância seja deixada para trás para que um período repleto de mudanças possa iniciar. O próprio corpo, os interesses, as motivações. Tudo muda. Além do impulso rumo ao amadurecimento e à novas expectativas, há também a insegurança de sair da condição de criança dependente para criar uma identidade. Portanto, muito se perde para a conquista da maturidade e de um lugar no mundo. E cada vez que se perde alguma coisa na vida é necessário viver um luto, que corresponde ao entendimento e aceitação da perda. Em primeiro lugar, luto pelo corpo infantil que sofre mudanças, sensações e causa estranheza. Depois deve ser vivido o luto de um comportamento primário que agora exige outro tipo de atitude frente ao grupo de amigos. E todo esse confronto não acontece de uma hora para outra. O adolescente se apresenta com uma variedade de comportamentos instáveis e, muitas vezes, contraditórios.

Outro fator de extrema importância nesse período é o correto entendimento de que os pais também enfrentam dificuldades para aceitar o novo período na vida do filho e a nova imagem que acompanha o adolescente. Uma nova pessoa que desperta para a sexualidade. Muitas vezes isso tudo provoca uma grande revolução na família pela falta de aceitação dos pais em perceber as mudanças físicas e de comportamento. Os filhos agora possuem opinião e lutam por fixar sua nova identidade. Os pais também devem iniciar um processo de luto. Para eles, desprender-se do corpo infantil do filho e aceitar o fato de que a vida puxa o jovem para a entrada no mundo adulto representa a evolução de suas próprias vidas. É o reconhecimento da proximidade da velhice e da morte. Muitas brigas em casa acontecem pela falta de aceitação dos pais em entender o processo de amadurecimento e independência dos filhos.

O seu email, minha querida jovem, é o grito de socorro de alguem que sente-se sozinha e não sabe o que fazer para suportar as exigências e as mudanças internas e externas que a vida tem lhe imposto. Seus pais não conseguem perceber o que vem acontecendo à você. Pelo que você relata parece que eles têm dificuldade em ver que o tempo está passando e você cresceu.

Você deve buscar uma psicoterapia. Se eles não derem importância ao seu pedido procure uma solução no seu colégio. Fale com a coordenadora pedagógica ou com a psicóloga, se houver, e solicite um encaminhamento para o profissional que o colégio indicar. Isso terá que ser feito com a autorização de seus pais, portanto peça ao colégio que os convoquem para uma conversa a seu respeito.

Isolar-se no quarto, fugir do mundo exterior procurando refúgio na fantasia e esperar completar 18 anos de idade para ir embora de casa, não lhe dá a garantia de felicidade e tranqüilidade futuras. Aceite o fato de que seus “ataques” não encontram resposta e caem no vazio. Portanto, não são a melhor saída. Você tem uma necessidade desesperada em ser reconhecida, possuir uma identidade e ser amada. Seus pais possuem grandes ansiedades e medos que os impedem de perceber o que vem acontecendo. Mas você também deve fazer a sua parte e ter atitudes coerentes com a sua idade.
Espero ter lhe ajudado.