“O
ser humano é muito difícil de ser entendido. Diz que ama, mas trai ou mata. Põe
um filho no mundo, mas se arrepende e abandona. Prejudica a natureza, mas não
vive sem ela. Agora eu pergunto à você: amo o meu marido, mas desconfio dele.
Ele não comemora datas importantes junto à família dele por minha causa. Não
falo com a tia dele. Ano passado ele brigou com o irmão e eu quase briguei
também. Graças à Deus eles voltaram à se falar e a paz reina entre todos da
família. Mas, segundo meu marido, não teria clima se eu estivesse junto à
família dele. Sei que sou muito ciumenta, chata, intrigueira. Acho que sou uma
boa dona de casa, mas sei que isso não é tudo. Às vezes tenho vontade de falar
com a mulher do meu cunhado, mas me falta coragem para escutar a verdade.
Gostaria muito da sua ajuda.”
Sua
vida parece misturada com a de seu marido. Você não sabe mais quais são as suas
próprias questões e quais são as dele. Não há separação. Porque você acha que
deve se envolver nas brigas dele com a família? Em todo casal deve existir uma
linha invisível separando a vida de cada um. Viver junto significa viver com
alguém que se ama, respeita e permite ser amado apesar das diferenças.
Conviver com as diferenças é
dominar a arte do bem viver. Exige prática diária e, como todo aprendizado,
requer tempo e paciência.
Você
diz que não fala com algumas pessoas da família dele. Entre vocês dois a
comunicação também parece comprometida. Subjacente ao diálogo existe
desconfiança. A briga é a dificuldade de um diálogo maduro quando as
opiniões divergem, impossibilitando a
convivência de uma forma harmoniosa e partindo-se, então, para a agressão verbal.
Você
sabe o que acontece com você e o que poderia ter feito para que as brigas não
acontecessem. Porém ter consciência disso não basta para que você mude. Algo
inconsciente a impulsiona e você age dessa maneira. Ser boa “dona” de casa
não quer dizer ser dona de tudo, incluindo o marido. Ele é uma pessoa, você
outra. Porque você cria condições para afastá-lo dos parentes e quer manter o
relacionamento assim, sem dividi-lo com o resto do mundo?
O
impulso agressivo sempre retorna mesmo sabendo que poderia ter agido de uma
forma apaziguadora no calor das emoções. Claro que é possível recomeçar, mas você deve
procurar saber porque age sempre da mesma forma.