26 de abril de 2009

Tentando mais uma vez

Você pode ter errado, não faz mal. Isso não configura um problema. Talvez isso faça com que você consiga olhar a vida de uma maneira diferente.
No desespero do erro muitas vezes não é percebida uma possibilidade futura de acerto. Parece que só encontramos valor em nós mesmos quando fazemos algo com competência, sucesso e reconhecimento. No entanto a vida presenteia todos com um permanente aprendizado. E então paramos de nos castigar por causa do erro e vislumbramos a próxima vez, uma nova possibilidade. Transformando qualquer aspecto da vida.

"Nunca perdemos nada ao aprender; sempre ganhamos alguma coisa. A razão pela qual eu sei tanto é ter cometido tantos erros."

Buckminster Fuller, matemático e filósofo que nunca se formou mas recebeu 46 doutorados honorários.

16 de abril de 2009

Fa$$mirrí e mega sena

Como sempre faço no início de cada mês, paguei a secretária do consultório e fui retribuída com um grande sorriso e a seguinte afirmação: “Ôba, lá vem o fassmirrí”. Perguntei que idioma era aquele e bem devagar ela me diz “esse é o faz-me rir” explicando sem hipocrisia e com muita naturalidade que o dinheiro a deixava muito feliz.

Depois encontrei com um conhecido que joga na mega sena há muitos anos e quando já estava acumulada na casa dos 20 milhões, fiz referência ao prêmio e ele me disse: “Nem quero ganhar isso tudo sozinho”. Intrigada perguntei o porque em não querer toda aquela quantia já que ele jogava há tantos anos e, portanto, nutria o desejo de ficar rico. Ele me responde: “Ah, sei lá. Não sei como seria. É muito dinheiro, não quero tudo isso, não”, revelando uma imprecisão a respeito do que sentiria ou se tornaria caso recebesse um prêmio vinculado à responsabilidade de algo desejado por milhões de pessoas.

Apesar das dificuldades materiais em que vivem muitas pessoas não conseguem se libertar de registros que determinam suas ações. Ensinamentos na infância que ecoam por toda a existência e que limitam o cotidiano transformando a vida em uma sucessão de acontecimentos repetitivos apesar do desejo que algo diferente (e mágico!) aconteça.

Trocando em miúdos, querer uma vida com dinheiro, de forma criativa, trabalhando no que se gosta, “é para os outros”.

Por pelo menos uma vez todos já ouviram algum desses aforismos:

* O dinheiro é a raiz de todo o mal.

* Rico nesse país, só roubando...

* Guarde para os dias difíceis.

* Rico não tem coração (sentimento, bondade, compaixão)

* Dinheiro não nasce em árvore

* Você acha que sou feito de dinheiro?

* Tenho cara de banco para você me pedir dinheiro todo dia? Eu mesma ouvi algumas dessas na minha infância e as que me recordo são “todo rico é ladrão” e a famosa “não tenho um centavo”.

O dinheiro é um símbolo de troca. Trocamos nosso trabalho (conhecimento, mão de obra, força física) por dinheiro. E esse dinheiro será trocado por algum bem de consumo ou de bem estar. Simples assim. Na maioria das vezes nem chegamos à tocá-lo. Ele aparece na tela do caixa eletrônico ou do computador e temos a grata satisfação de que algo que fizemos nos rendeu frutos e proporcionará algo que desejamos.

O dinheiro nem existe. O dinheiro é virtual. A grande questão do dinheiro é que sobre ele é colocada uma enorme quantidade de símbolos por conta do resultado de tudo o que vivemos e ouvimos na infância transformando, o que era para ser um meio, em símbolo. Símbolo de poder, beleza, sucesso, felicidade. Mas também de corrupção, ganância, desvalia e sujeira. Pessoas que gostam de (ganhar) dinheiro têm receio de que os outros o considerem desprovido de algum valor, sensibilidade ou amor revelando um senso de culpa ligado à esse desejo. Somente se libertando desse condicionamento do passado, saindo da condição de vítima é possível dar o correto valor ao dinheiro.

Esse escrúpulo em torno do dinheiro é parte da condição humana e não há nada de novo nisso. Em 1913 Freud já afirmava que “as questões de dinheiro são tratadas pelas pessoas civilizadas da mesma maneira que as questões sexuais – com a mesma incoerência, pudor de hipocrisia”.

9 de abril de 2009

O poder dos avós

Hoje li um artigo que afirmava ser prejudicial para as crianças a permanência com os avós enquanto os pais estão no trabalho. Explicando. Os pequenos que ao invés de irem para a creche ou escolinha, ficavam em casa com os avós. Esse convívio excessivo revelou ser prejudicial para as crianças que apresentaram dificuldades na linguagem ou problemas adaptativos quando alcançavam a idade de três anos. Os que ficavam aos cuidados da creche, escola ou babá especializada apresentaram um desenvolvimento elevado.

Vamos por partes. É claro que o amor dos avós é na maioria das vezes inigualável. Mas em função das limitações que todos enfrentamos à medida que amadurecemos, seria um equívoco acreditar que a convivência com eles devesse proporcionar experiências educacionais e sociais às quais a criança realmente necessita. Isso é função de pais e educadores.

A abordagem do texto foi feita com crianças de todos os níveis sociais. Condição financeira, cultural, possibilidades, acessos facilitados ou eventuais dificuldades não foram importantes na relação entre avós e netos nessa pesquisa. O estudo conclui que os avós merecem apoio ao invés de críticas.

Ter um filho diz respeito ao desejo de alguém em relação à maternidade ou paternidade. Esse desejo vai além do fator biológico e implica muito em comprometimento, formação de novos vínculos, abrir mão de suas prioridades e de todo um mundinho próprio já organizado. Para incluir alguém na própria vida é necessário ter que abdicar de algumas coisas caso contrário vive-se sozinho. O que dirá com a entrada de alguém que irá depender em sua totalidade? Que se encontra em desamparo? Portanto há de se ter além do desejo, algum planejamento e estar preparado (a) para novas responsabilidades e a certeza da presença permanente de alguém irá depender MUITO de todo tipo de cuidados.

Os novos vínculos e alianças que se formam a partir de um filho não implica em delegar a responsabilidade dos cuidados à alguém. O outro tem o direito de não querer essa responsabilidade. Muitas mulheres desejam um filho e quando nasce “a minha mãe (a avó) cuida”.

Avós devem exercer seus papéis e sem querer criar categorias para as funções familiares, pois isso na verdade já existe, eles têm pleno poder sobre suas tarefas. E que tarefas são essas? De serem simplesmente... AVÓS.

Os netos dão uma segunda oportunidade para que sejam aprendidas algumas coisas que escaparam na vez em que surgiram durante a experiência com seus próprios filhos. A presença dos netos também faz com que a passagem do tempo permita aos mais velhos ver com mais felicidade a realidade do segmento de sua vida.

Há muitas vantagens em ser avô ou avó e talvez a mais importante a ser destacada é que eles TÊM TEMPO. Isso soa paradoxal, é verdade. Mas eles têm tempo para os netos. Pois o tempo que falta aos pais, os avós têm. E assim eles exercem seu papel de transmissores de princípios revelando companheirismo, amizade, amor. Mesmo quando os netos estejam passando por dificuldades ou solidão. Mesmo quando são incompreendidos.

Os avós acreditam nos netos de uma forma bastante natural. Os netos olham para eles acreditando que ali existe uma alma, uma existência sem idade no coração, alguém eternamente jovem e imortal.
Eles ouvem o que os netos têm a dizer e principalmente o que eles não querem dizer, sem a intenção de administrar a situação como normalmente faria uma mãe ou um pai.
Os avós permitem que os netos consigam alcançar seus objetivos oferecendo-se como aliados dando incentivo e inspiração. Em troca sentem o coração rejuvenescido e descobrem a fonte da eterna juventude.

Os pais têm a oportunidade e o dever de manter os filhos em segurança e algumas vezes até utilizam alguns recursos ameaçadores para manter a integridade física dos filhos. Por pelo menos 18 anos mãe ou pai organiza, grita, reclama porque ele entrou de novo em recuperação, impõe maneiras, bons hábitos, arrasta para o médico, o dentista ou fica até mais tarde para explicar a matéria às vésperas da prova ou para esperar que chegue de uma festa.

A imagem dos avós é uma boa marca que se deve levar de lembrança por toda a nossa existência. Uma vez li um livro em que a protagonista dizia a respeito de uma de suas avós e que pode ser estendido aos avôs também. Ela dizia:
“A imagem mais marcante que tenho de minha avó foi o dia em que ela juntou suas tintas e telas em branco e nos levou ao Jardim Botânico. Enquanto eu e meu irmão explorássemos os jardins eventualmente eu a olhava de uma pequena distância e lá estava ela. Com porte de rainha diante do cavalete, a luz dourada do sol iluminando seu rosto completamente em transe enquanto pintava. Como eu a amava naquele momento! E essa lição sem palavras cristalizou esse momento de emoção e a sensação permaneceu em mim pelas seis décadas seguintes da minha vida.”


2 de abril de 2009

O pessimista



Independente da maneira de se colocar frente a vida seja com fé na religião, na ciência, nos pais ou no amor da sua vida, por algum momento talvez tenha sucumbido a um acontecimento que o fez vacilar nas próprias crenças. Desilusão amorosa, desemprego, morte de alguém querido. De vez em quando a vida nos coloca diante de algumas incertezas e eventuais fracassos.


Não passa despercebida uma pessoa que afirma que nada dá certo, tudo vai mal e culpa desde o governo até o vendedor da esquina por seus insucessos e tristezas. Aquela velha história do copo d’água meio cheio ou meio vazio.



O pessimista cria um modo de vida defensivo se protegendo dos perigos do mundo. Obviamente ninguém nasce dessa forma e a origem desse funcionamento diz respeito a experiências prematuras, desapontamentos e frustrações na infância. Ninguém irá obedecer a partir de agora todos os desejos de uma criança na tentativa de manter a sua integridade psíquica. Não se supõe que a frustração seja algo nocivo. Ao contrário. Ela opera na condição psíquica de cada um criando condições para enfrentar o mundo.


Amadurecer é criar novas possibilidades quando não se consegue algo conforme idealizado e principalmente sustentar aquela situação transitória indesejada sem cair em desespero.

É a maneira como reagimos a determinadas situações e a capacidade de criar saídas alternativas que revelam o nosso grau de amadurecimento. Reclamar e chorar sobre o que aconteceu não serve para muita coisa.

Portanto as experiências da vida e a maneira como as coisas foram negadas na infância ou na juventude constituirão o mundo interno de cada um. Se foram deixados traumas psíquicos, como resultado passa-se a vida sendo pessimista e tendo FÉ de que as coisas NÃO irão dar certo. Fé? Claro. Todo mundo tem fé. Nesse caso ele acredita que nada irá dar certo mesmo. Essa crença irracional protege a pessoa de uma desilusão, um sofrimento. E quando um desapontamento surge, como eventualmente acontece a qualquer um, serve para reforçar a filosofia negativa do pessimista.

O pessimista deve mudar o cenário da vida, como ele se coloca frente a situações e principalmente como chegou a essas crenças a respeito de si e do mundo para tentar aliviar a carga pesada que vem trazendo de seu passado.