Hoje li um artigo que afirmava ser prejudicial para as crianças a permanência com os avós enquanto os pais estão no trabalho. Explicando. Os pequenos que ao invés de irem para a creche ou escolinha, ficavam em casa com os avós. Esse convívio excessivo revelou ser prejudicial para as crianças que apresentaram dificuldades na linguagem ou problemas adaptativos quando alcançavam a idade de três anos. Os que ficavam aos cuidados da creche, escola ou babá especializada apresentaram um desenvolvimento elevado.
Vamos por partes. É claro que o amor dos avós é na maioria das vezes inigualável. Mas em função das limitações que todos enfrentamos à medida que amadurecemos, seria um equívoco acreditar que a convivência com eles devesse proporcionar experiências educacionais e sociais às quais a criança realmente necessita. Isso é função de pais e educadores.
A abordagem do texto foi feita com crianças de todos os níveis sociais. Condição financeira, cultural, possibilidades, acessos facilitados ou eventuais dificuldades não foram importantes na relação entre avós e netos nessa pesquisa. O estudo conclui que os avós merecem apoio ao invés de críticas.
Ter um filho diz respeito ao desejo de alguém em relação à maternidade ou paternidade. Esse desejo vai além do fator biológico e implica muito em comprometimento, formação de novos vínculos, abrir mão de suas prioridades e de todo um mundinho próprio já organizado. Para incluir alguém na própria vida é necessário ter que abdicar de algumas coisas caso contrário vive-se sozinho. O que dirá com a entrada de alguém que irá depender em sua totalidade? Que se encontra em desamparo? Portanto há de se ter além do desejo, algum planejamento e estar preparado (a) para novas responsabilidades e a certeza da presença permanente de alguém irá depender MUITO de todo tipo de cuidados.
Os novos vínculos e alianças que se formam a partir de um filho não implica em delegar a responsabilidade dos cuidados à alguém. O outro tem o direito de não querer essa responsabilidade. Muitas mulheres desejam um filho e quando nasce “a minha mãe (a avó) cuida”.
Avós devem exercer seus papéis e sem querer criar categorias para as funções familiares, pois isso na verdade já existe, eles têm pleno poder sobre suas tarefas. E que tarefas são essas? De serem simplesmente... AVÓS.
Os netos dão uma segunda oportunidade para que sejam aprendidas algumas coisas que escaparam na vez em que surgiram durante a experiência com seus próprios filhos. A presença dos netos também faz com que a passagem do tempo permita aos mais velhos ver com mais felicidade a realidade do segmento de sua vida.
Há muitas vantagens em ser avô ou avó e talvez a mais importante a ser destacada é que eles TÊM TEMPO. Isso soa paradoxal, é verdade. Mas eles têm tempo para os netos. Pois o tempo que falta aos pais, os avós têm. E assim eles exercem seu papel de transmissores de princípios revelando companheirismo, amizade, amor. Mesmo quando os netos estejam passando por dificuldades ou solidão. Mesmo quando são incompreendidos.
Os avós acreditam nos netos de uma forma bastante natural. Os netos olham para eles acreditando que ali existe uma alma, uma existência sem idade no coração, alguém eternamente jovem e imortal.
Eles ouvem o que os netos têm a dizer e principalmente o que eles não querem dizer, sem a intenção de administrar a situação como normalmente faria uma mãe ou um pai.
Os avós permitem que os netos consigam alcançar seus objetivos oferecendo-se como aliados dando incentivo e inspiração. Em troca sentem o coração rejuvenescido e descobrem a fonte da eterna juventude.
Os pais têm a oportunidade e o dever de manter os filhos em segurança e algumas vezes até utilizam alguns recursos ameaçadores para manter a integridade física dos filhos. Por pelo menos 18 anos mãe ou pai organiza, grita, reclama porque ele entrou de novo em recuperação, impõe maneiras, bons hábitos, arrasta para o médico, o dentista ou fica até mais tarde para explicar a matéria às vésperas da prova ou para esperar que chegue de uma festa.
A imagem dos avós é uma boa marca que se deve levar de lembrança por toda a nossa existência. Uma vez li um livro em que a protagonista dizia a respeito de uma de suas avós e que pode ser estendido aos avôs também. Ela dizia:
“A imagem mais marcante que tenho de minha avó foi o dia em que ela juntou suas tintas e telas em branco e nos levou ao Jardim Botânico. Enquanto eu e meu irmão explorássemos os jardins eventualmente eu a olhava de uma pequena distância e lá estava ela. Com porte de rainha diante do cavalete, a luz dourada do sol iluminando seu rosto completamente em transe enquanto pintava. Como eu a amava naquele momento! E essa lição sem palavras cristalizou esse momento de emoção e a sensação permaneceu em mim pelas seis décadas seguintes da minha vida.”