Se tivessem sido inocentados Alexandre Nardoni e Ana Jatobá arrastariam sua “sentença
de liberdade” para outras vítimas, os 2 filhos menores do casal.
Considerando
que um filho tem sempre a melhor impressão dos próprios pais, os filhos do casal carregariam a marca
social de serem filhos dos assassinos de sua própria irmã. Marca indelével que
permanecerá não apenas neles, mas em todos nós. A
criança empalidece perante a vida, pois vive em permanente estado de alerta
sentindo-se ameaçada por tudo que a cerca. Todos nós sentimos essa coisa.
Segundo o Laboratório de Estudos da Criança da Universidade de São Paulo, 100 CRIANÇAS MORREM POR DIA no Brasil vítimas de abuso sexual e psicólogico, negligência e violência física e em 70% dos casos os agressores são os pais biológicos.
Tende-se
a afirmar que os pais amam seus filhos da mesma maneira e na mesma
proporção. Isso é um grande mito. Existem sentimentos profundamente enraizados
contrários ao que se supõe ou afirma. Um
pai que mata um dos filhos e “preserva” os outros revela de forma clara e
brutal que faz “diferenças” entre eles. Ama-se um mais do que outro e um
sentimento de culpa é despertado no filho amado sobrevivente. Os ciúmes entre
irmãos é a expressão da rivalidade no amor. É natural e necessário na
construção da subjetividade. Porém nesse caso ele é atravessado por um elemento
novo. A punição pelo desejo de amar e ser amado. Na verdade o desejo de
aniquilar o outro sempre existiu no inconsciente. “Não aguento mais. Quero que
você morra!” Frases populares como essas fazem parte do cotidiano entre pais,
filhos e irmãos. São frases comuns. Mas a passagem ao ato é de outra ordem.
Com
a facilidade, rapidez e detalhamento dos fatos pelos canais de informação milhões
de crianças e jovens se confrontam com a dura realidade que Isabela viveu e que
todos vivemos. Que um pai pode matar. A condenação nos livrou deles.
Temos a impressão de que estamos seguros, porém milhares de crianças morrem todos os anos
vítimas de pais, mães, padrastos, madrastas, tios,
vizinhos. João, Pedro, Maria, Anônimo. A justiça se cumpre pela pressão social,
mas ninguém venceu. Isabela perdeu a vida e vamos ficar aqui sustentando a
angústia de que perdemos a nossa um pouco também.