“Resolvi
escrever para tirar uma dúvida. Não sei se é verdade, mas a psicologia explica
porque o filho mais velho sofre em certos aspectos? Será fruto da inexperiência
dos pais? Tenho um irmão mais novo. Pessoas que acabam de nos conhecer tem a
impressão de que sou mais novo que ele. E é exatamente o contrário. Não sei se
na aparência ou no comportamento. Sou mais expansivo e ele é mais fechado. Já
ouvi várias vezes coisas do tipo ‘nossa, pensei que ele fosse o mais velho e
não você.’ E, de alguma forma, isso me incomoda demais. Quando era mais novo
fui muito tolhido. Tudo o que eu queria fazer (de saudável, é claro) recebia um
não. Não tinha apoio quando ia tomar uma decisão. O não era uma resposta certa.
Fui crescendo assim. Por isso sou muito inseguro na hora de tomar decisões. Ao
contrário do meu irmão mais novo.”
Você
não informa a sua idade e a de seu irmão. Tampouco a dinâmica familiar, ou
seja, se você e seu irmão são filhos dos mesmos pais. Tem outros irmãos? Os
pais viviam juntos ou trocaram de parceiros quando você e seu irmão eram
pequenos? Diante da escassez de informações vamos olhar somente a situação
relatada.
Na
infância a relação de dependência dos pais é natural e necessária. A criança
deve ser introduzida ao mundo e cabe aos pais nomear tudo o que a cerca.
Inicia-se, portanto, um longo aprendizado que continuará de forma independente por
toda a vida. Em algum momento essa atenção exclusiva teve que ser dividida com
a chegada de um irmão. Esse momento é crucial para o mais velho, pois lhe será
apresentada uma nova realidade durante a gestação: “esse é o seu irmãozinho”,
“ele também é seu”, “você vai cuidar dele também”. Coisas assim.
Quando
nasce um irmão, toda criança sente ciúmes, o que é bastante natural e não há
nada de perturbador nisso. Ela é acometida por um sentimento de perigo e,
portanto, sente-se ameaçada. A criança, confusa, reage à essa realidade
identificando-se com o recém chegado e regride comportando-se como um bebê com
o objetivo de resgatar a atenção exclusiva que lhes era destinada
anteriormente. Cabe aos pais ajudar a criança à superar esse momento de
dificuldade proporcionando acolhimento e adotando uma postura compreensiva em
relação ao filho mais velho. A respeito dos ciúmes, esse tipo de conflito tende
a se resolver na infância. Superado isso, a criança retorna ao seu
desenvolvimento pessoal.
Algumas
vezes, mesmo com o passar dos anos, o filho mais velho sente-se ameaçado, tem
medo de crescer. Um comportamento expansivo pode revelar um desejo inconsciente
de permanecer criança e resgatar o que acredita lhe foi tirado como amor,
proteção, exclusividade, impedindo-o de situar-se no presente. O ciúme é a
única possibilidade de comunicação devido à falta de entendimento sobre o que,
de fato, acontece com você.
Todo
casal é inexperiente em relação ao primeiro filho. E em relação aos próximos
também. Cada filho é de um jeito, é diferente do outro. É único.
Porque
será que tudo o que você queria fazer tinha um não como resposta? Será que o
seu comportamento correspondia à sua idade? Ou será que o seu ‘comportamento
expansivo’ era traduzido pelos seus pais como imaturidade e lhe davam uma
negativa para protegê-lo? Porque você precisava da aprovação deles para fazer
algo que, de antemão, considerava ‘saudável’, mesmo sabendo que receberia um
não como resposta? Responsabilizar-se pelos próprios atos inofensivos e
saudáveis mesmo que venham a ser um sucesso ou um fracasso pode ser um bom
começo. O filho mais velho quer a atenção que lhe é devida, quer o amor dos
pais. De fato, você está no lugar de filho mais novo, porém guardar
ressentimentos contra os pais ou sentir-se perturbado quando não o reconhecem
como primogênito não o ajudará a lutar pelos seus direitos de viver de forma
madura e responsável.
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