3 de junho de 2010

Ela Ganha Mais Que Ele



Outro dia recebi uma mensagem de um leitor que dizia: “O amor não consiste em olhar um para o outro, mas sim em olhar juntos para a mesma direção.” Nesta citação Saint Exupéry nos indica que, para o amor existir, a reciprocidade do casal exige uma adequação necessária. Isso quer dizer que a aceitação do modo do outro e as circunstâncias (mesmo as desfavoráveis) devem ser superadas colocando a cumplicidade acima das dificuldades e que, então juntos, construam algo em comum. O que une um casal e fortalece a relação é a disponibilidade em fazer planos, de preferência, bem ajustados. E se ela ganha mais que ele? E se o planejamento dela inclui um réveillon em Paris enquanto o dele cabe um fim de semana em Lumiar?


Dinheiro esteve sempre associado à poder, cargos, aquisição de imóveis, carros e até pessoas. Sair de casa para ganhar dinheiro foi, durante muito tempo, uma prerrogativa masculina. A mulher ficava em casa cuidando dos filhos, do lar e das coisas dele. Mas um dia a mulher saiu de casa, começou a trabalhar e estudar. Aprimorou conhecimento e agora disputa lado a lado com eles. Todo esse empenho as fez conquistar um importante lugar no mercado de trabalho levando-as a ganhar, muitas vezes, mais do que o companheiro. Com menos disponibilidade elas agora pedem mais atuação em casa na divisão dos encargos, tarefas com os filhos e projetos de vida. E nesse ponto as coisas se complicam. A diferença no status financeiro entre os parceiros pode abalar a estrutura da relação. Por mais moderna que seja a mentalidade de homens e mulheres, essa mudança de paradigma pode afetar o casal.


Durante séculos sempre foi esperada uma determinada atuação do homem. Dinheiro=poder. Poder=potência. Se ele é destituído do dinheiro ou se há uma substancial diferença de dígitos entre ambos pode acontecer de alguns homens se revelarem agressivos ou impotentes sexualmente. Uma diminuição do desejo sexual pode ser entendida como uma forma de revelar que a mulher não é desejável fazendo-a sentir-se insegura e rejeitada.


O que mais frequentemente ocorre é a impossibilidade de grande parte dos homens não conseguir verbalizar, expressar sentimentos e aceitar a superioridade financeira da parceira. Por outro lado, muitas mulheres utilizam esse trunfo como modo de vingança por conta de experiências anteriores fracassadas encontrando, então, uma oportunidade de vingança agindo de forma autoritária e exigindo submissão.


Desigualdade salarial entre os parceiros é assunto delicado. O psicanalista Jeremiaz Ferraz aborda as questões do dinheiro relacionadas à religião e ao sexo em Psicanálise do Dinheiro (Mauad). 


É possível conviver com essa diferença. Aceitar isso revela grande maturidade quando tudo é dividido com coerência e acordo mútuo. A inversão pode ser bem vivenciada com cada um assumindo um lugar diferente do que é reconhecido socialmente. Porém a inversão do papel social pode trazer à tona elementos internos mal resolvidos. O excesso ou a falta do dinheiro revela sempre o que de mais profundo cada um tem dentro de si.







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