12 de junho de 2010

Linhas e Entrelinhas dos Namorados



Amor é uma palavra que todo o mundo usa. Uma palavra às vezes comum, outras vezes mágica. Às vezes pobre de sentido e rica de emoção, banal ou surpreendente, mas especialmente cheia de sombras e luzes. 


Em nosso tempo e lugar a palavra "amor" é, muitas vezes, manchada, mal conjugada ou usada para nomear muitos sentimentos indistintamente. Por exemplo, "eu amo minha mulher, meu cachorro e meu carro.” Ou "eu amo dois homens (ou duas mulheres) ao mesmo tempo.” O amor foi banalizado onde todos os tons do sentimento apaixonado se traduzem por amor. Ama-se antes mesmo da certeza do amor, quando ainda não sabe se ao menos gosta, revelando uma emergência, uma carência, uma necessidade quase visceral em amar. Algo de tentar suprir um vazio interno ou de seguir uma tendência do mercado. “Tenho que ter alguém do meu lado. Não dá para ficar sozinha”.  Afinal para o clima do dia dos namorados, tenta-se de tudo para entrar no fluxo frenético de ter alguém e não sentir solidão. Um amor, qualquer um. Esses amores deslumbrados, felizes, sussurrados de uma noite. Pode ser que as sutilezas do amor prejudiquem o envolvimento verdadeiro, aquele buscado dentro do olhar do outro e tragam a distante lembrança de algo que aconteceu tempos atrás e crie uma resistência em não se vincular. 


Aquela formação infinita do amor, quando termina, traz junto a dor da lembrança dos sussurros e promessas. Os aromas na memória, a nostalgia e tudo o mais pode vir a se transformar em ódio. O doce ódio trazendo de volta o amor prejudicado, hostil, amargo e carregado de ressentimento mantendo seu fogo, agora destrutivo, capaz de tudo para eliminar o outro. “Nunca mais me apaixono! Agora vou usar todos eles!”
Mas quando estamos amando, (ahhh!) quando estamos realmente entorpecidos pelas sensações, recusamos pensar nisso e (ainda bem!) somente temos atenção para canções, poemas ou silêncios carregados de emoções, de entonações diferentes, com olhares, gestos e atenções particulares. Refinamos tudo isso dando de nós o melhor que temos. Emparelhamos tudo com advérbios, adjetivos e superlativos. Temos impulsos de entusiasmo, aumentamos tudo com sonhos e criamos fantasias sem barreiras. E quem disse que há limite no sonho para os que amam?


Tentamos aliviar o fardo pesado da temporária ausência do outro nos divertindo, mas “sem ele(a) não tem graça”. E nos assustamos com a possibilidade dos dias de escassez daquele amor se ele(a) um dia não estiver mais ali. Quem vai me esquentar no próximo inverno? Às vezes sentimos isso nos dias de solidão. E, então, tememos amar de novo com a certeza de que na próxima vez não vamos nos "entregar tanto para não sofrer de novo”.


A palavra amor nem sempre fala de amor. Muitas vezes fala mais de um desejo, de uma criação, de uma nossa invenção, de um jeito que eu queria que ele fosse, de uma necessidade, de uma carência minha, dele ou dela. Fala de um amor que a gente inventa todos os dias. Mas mesmo inventado é isso que nos faz tão felizes na maioria das vezes e, portanto, não podemos deixar de aproveitar a oportunidade para tentar mais uma vez e fazer da maior preciosidade que temos a essência-motor da nossa vida.
Afinal, temos que estar bem vivos para amar! 


Feliz Dia dos Namorados!







3 de junho de 2010

Ela Ganha Mais Que Ele



Outro dia recebi uma mensagem de um leitor que dizia: “O amor não consiste em olhar um para o outro, mas sim em olhar juntos para a mesma direção.” Nesta citação Saint Exupéry nos indica que, para o amor existir, a reciprocidade do casal exige uma adequação necessária. Isso quer dizer que a aceitação do modo do outro e as circunstâncias (mesmo as desfavoráveis) devem ser superadas colocando a cumplicidade acima das dificuldades e que, então juntos, construam algo em comum. O que une um casal e fortalece a relação é a disponibilidade em fazer planos, de preferência, bem ajustados. E se ela ganha mais que ele? E se o planejamento dela inclui um réveillon em Paris enquanto o dele cabe um fim de semana em Lumiar?


Dinheiro esteve sempre associado à poder, cargos, aquisição de imóveis, carros e até pessoas. Sair de casa para ganhar dinheiro foi, durante muito tempo, uma prerrogativa masculina. A mulher ficava em casa cuidando dos filhos, do lar e das coisas dele. Mas um dia a mulher saiu de casa, começou a trabalhar e estudar. Aprimorou conhecimento e agora disputa lado a lado com eles. Todo esse empenho as fez conquistar um importante lugar no mercado de trabalho levando-as a ganhar, muitas vezes, mais do que o companheiro. Com menos disponibilidade elas agora pedem mais atuação em casa na divisão dos encargos, tarefas com os filhos e projetos de vida. E nesse ponto as coisas se complicam. A diferença no status financeiro entre os parceiros pode abalar a estrutura da relação. Por mais moderna que seja a mentalidade de homens e mulheres, essa mudança de paradigma pode afetar o casal.


Durante séculos sempre foi esperada uma determinada atuação do homem. Dinheiro=poder. Poder=potência. Se ele é destituído do dinheiro ou se há uma substancial diferença de dígitos entre ambos pode acontecer de alguns homens se revelarem agressivos ou impotentes sexualmente. Uma diminuição do desejo sexual pode ser entendida como uma forma de revelar que a mulher não é desejável fazendo-a sentir-se insegura e rejeitada.


O que mais frequentemente ocorre é a impossibilidade de grande parte dos homens não conseguir verbalizar, expressar sentimentos e aceitar a superioridade financeira da parceira. Por outro lado, muitas mulheres utilizam esse trunfo como modo de vingança por conta de experiências anteriores fracassadas encontrando, então, uma oportunidade de vingança agindo de forma autoritária e exigindo submissão.


Desigualdade salarial entre os parceiros é assunto delicado. O psicanalista Jeremiaz Ferraz aborda as questões do dinheiro relacionadas à religião e ao sexo em Psicanálise do Dinheiro (Mauad). 


É possível conviver com essa diferença. Aceitar isso revela grande maturidade quando tudo é dividido com coerência e acordo mútuo. A inversão pode ser bem vivenciada com cada um assumindo um lugar diferente do que é reconhecido socialmente. Porém a inversão do papel social pode trazer à tona elementos internos mal resolvidos. O excesso ou a falta do dinheiro revela sempre o que de mais profundo cada um tem dentro de si.







1 de junho de 2010

Loucas Paixões. Ficção e Realidade.

Tenho percorrido na literatura e no cinema os excessos de amor entre homens e mulheres. E o que se vê naquele que desperta o amor? No caso das mulheres, uma aceitação em ser aquela pelo qual o outro satisfaz a fantasia de uma parceira ideal. Ela é capaz de dar tudo ao homem. “Seu corpo, sua alma, seus bens”, como diria Lacan. Mas os homens, à sua maneira, revelam também sua intensidade amorosa. Vejamos em: 


Amor nos Tempos do Cólera, da obra de Gabriel Garcia Marquez, que narra a história de um amor idealizado e buscado incessantemente por mais de cinco décadas. Se essa descrição não surpreende tanto, acrescente-se à isso o fato do personagem, interpretado pelo maravilhoso Javier Bardem, não haver estabelecido um contato mais próximo com sua eleita, exceto por cartas e breves olhares apaixonados na adolescência. O filme mostra o “romantismo” do personagem principal e a busca incansável por uma mulher impedida pelo pai de viver o amor de corpo e alma com esse homem. 


Bem Me Quer Mal Me Quer com a excelente atriz Audrey Tautou, a mesma que fez O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, O Código Da Vinci e, mais recentemente, Coco Antes de Chanel. O filme é bem recortado nas cenas o que transmite a certeza de uma “verdadeira relação” entre a jovem artista e o médico casado. Com final surpreendente e dramático, esse filme é uma opção valiosa para quem quer assistir o amor de uma mulher chegando às raias da loucura. Ótimo! 


As Pontes de Madison com Meryl Streep retratando a vida de uma interiorana dona-de-casa-esposa-mãe dos anos 50 nos Estados Unidos. Todo o conhecimento do amor e do mundo aparece na figura de um fotógrafo da National Geographic com quem ela vive intensamente quatro dias de intensa paixão. Motivada pelo calor desse novo sentimento ela pensa em abandonar o que lhe era mais caro: a segurança do casamento de muitos anos e seus filhos, pois um amor como aquele não se pode perder. O momento de decidir qual destino traçar impõe às mulheres que assistem a seguinte questão: o que eu teria feito no lugar dela? 


Excessos de amor, paixões alucinadas e ciúmes incontroláveis são pontos altos das grandes histórias de amor. Sempre se sofreu por amor e pelo amor. Sofrimento como prova cabal do amor verdadeiro que reivindica nada mais nada menos do que...amor total. É certo que algumas vezes o que aparece como excesso de amor pode revelar alguma patologia. Nos romances, os apaixonados aparecem como loucos e desatinados. A vida real apresenta homens e mulheres sofrendo por amor até as últimas conseqüências.