13 de abril de 2010

Engolindo sapo


Um dos problemas mais comuns para quem tem maus hábitos está no fato de, na maioria das vezes, não saber como aquele tipo de comportamento se originou. Algumas vezes ao desenvolver um padrão, na verdade se age por conseqüência do meio em que se vive, um reflexo do comportamento predominante do ambiente, como um contágio. E deve-se estar atento à isso.

Mantenho determinados hábitos diários e procuro otimizar minhas tarefas para que meu tempo seja melhor aproveitado em coisas que realmente aprecio… Portanto vou aos mesmos lugares e isso inclui o supermercado em que faço minhas compras. Confesso que essa é uma daquelas tarefas que preferia não fazer, mas como não tenho alternativa, vou a uma loja silenciosa onde o ar condicionado funciona bem e, principalmente, sem aquelas pessoas gritando no microfone as últimas promoções. Mas um detalhe sempre me intrigou. A maioria dos funcionários tem o semblante sério, aquele jeito de “poucos amigos” e sempre havia um reclamando do salário, da carga horária, do chefe da seção ou de alguma doença e isso infelizmente chegava aos meus ouvidos. Um dia não me contive e perguntei: “Porque os funcionários daqui reclamam tanto?” Temerosa da reação da funcionária me surpreendi quando ouvi a resposta, em tom arrastado, acompanhada de um sorriso forçado. “Porque aqui o cliente tem sempre razão. O funcionário não vale nada. A gente engole sapo de todo o mundo.”

“O cliente tem sempre razão” adquire um tom de verdade absoluta que atrapalha o sono de muita gente. Caixas, vendedores, comissárias de bordo, operadores de telemarketing, segmentos que trabalham diretamente com o público ou ambientes corporativos onde se disputam o quinhão de um mercado altamente competitivo, se vêem as voltas com um intenso e desumano desgaste psicológico e físico. Empregos altamente estressantes e, muitos deles, mal remunerados frequentemente deixam o funcionário com sentimento de desamparo e vulnerável à todo tipo de enfermidades. Trabalhos onde se tem de engolir sapos o dia inteiro elevam o nível de absenteísmo decorrente da insatisfação profissional, da desvalorização pessoal e promovem o surgimento de doenças reduzindo drasticamente o índice de produtividade.

Tudo o que ameaça a vida gera um estresse positivo e por conseqüência uma resposta adaptativa com taquicardia, concentração aguçada e estado de alerta sem que isso seja considerado maléfico para o indivíduo em um primeiro momento. No entanto, se o agente estressante permanece atuando, o corpo entra em um estágio de esgotamento a estímulos permanentes e excessivos. Trocando em miúdos, o que isso quer dizer? Que muitas doenças são decorrentes de estresse e tensão do ambiente de trabalho gerando queda de cabelo, falhas de memória, insônia, gastrite, artrose, hipertensão, problemas no coração, na tireóide, além de fobias, depressão e quadros de pânico. Fases que requerem ajuda psicológica. Do ponto de vista científico quando o estresse chega à etapa de quase exaustão o sujeito encontra-se em seu momento crítico, pois é a fase clínica, quando o tratamento inevitavelmente se faz necessário.

Os fatores psicológicos geradores de estresse devem ser considerados pelas empresas em seus programas de treinamento. Novos procedimentos devem ser adotados para lidar com o estresse gerado por clientes nervosos e, principalmente, promover um clima favorável e de confiança no meio de trabalho.

Paradoxalmente o desemprego é um dos fatores mais estressantes ao mesmo tempo em que pessoas empregadas agüentam muita coisa por medo de perder o emprego.

E se no seu local de trabalho o chefe não está nem aí e você não encontra uma solução no momento? O mais seguro é que sejam desenvolvidos recursos internos para lidar com um ambiente difícil, conflituoso e estressante ao mesmo tempo em que procura outra colocação no mercado de trabalho. Difícil? Pode ser. Mas a busca de alternativas além de criar estímulo para suportar a situação irá favorecer um novo horizonte e, sobretudo, é a melhor saída para que o brejo seja definitivamente desocupado.