24 de dezembro de 2009

Os milagres do Natal



Tempos atrás atendi uma paciente de 10 anos que, segundo sua mãe, era “muito tímida”. Suas professoras me alertaram, “ela é muito fechada”. Na verdade, a menina sofria de mutismo. Mas não era um mutismo em que ocorrem tentativas de comunicação por gestos ou alguns escassos sons. O mutismo da menina era seletivo. Com exceção de seu pai e sua mãe, ela nunca havia falado com adultos. Com os colegas de classe ela interagia, brincava, fazia bagunça em aula. E falava. Falava muito. A ponto de receber anotações na caderneta endereçadas à mãe.

O início da análise da menina foi um desafio para mim. Além da recusa em falar, ela não queria estar ali. Aos poucos, e com muito manejo, a comunicação foi acontecendo. Certa vez, com a proximidade do Natal, durante a sessão e quase como um suspiro, ela me diz:
- Você não sabe o que eu tô pensando.
-Não, não sei. Mas você pode me falar.
E ela me pergunta:
- Você acredita em milagre?

O que me autorizo a narrar sobre esse atendimento, encerra aqui. Hoje me coloco frente à essa pergunta e digo: sim, eu acredito em milagre. Mas, sobretudo, acredito no milagre da superação, na perseverança e no trabalho feito com dedicação e cuidado.

Acredito também que nenhuma situação difícil que se esteja atravessando é definitiva. Ou que seja “coisa do destino”. A vida é dinâmica e é isso que faz dela um grande milagre.

Desejo à todos uma noite de Natal muito feliz. E que esse momento de paz e união seja o milagre de todos os dias.


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