Muito se
tem mostrado sobre a adoção na atualidade. Uma febre fashion que parece ter
contornos bastante próprios à uma minoria onde são excluídos seus entraves
subjetivos. Tudo como fator compensatório para a realização de um desejo.
O que leva
uma pessoa a querer agregar à sua própria vida um outro desconhecido que irá
depender integralmente dentro de um processo dramático bastante diferente do
que é anunciado? A adoção marca a vida de todos os envolvidos no processo
muitas vezes de forma mais intensa e dolorosa que as dores do parto. Ao
contrário dos manuais de conduta e averiguação das possibilidades de quem
adota, os inúmeros motivos que levam à adoção são os que certamente mais
interferem nessa difícil relação. Brevemente destacarei duas formas de luto
como possibilidade para a decisão da adoção. Como substituição de um filho
biológico que não virá em decorrência da esterilidade do casal ou de um dos
parceiros e como tentativa de superação do luto de um filho morto buscando na
adoção a possibilidade de "dar a luz" novamente.
A ferida
narcísica de um casal frente à impossibilidade de se realizarem pela concepção
biológica conduz à decisão da adoção como saída para a relização de um desejo.
Porém um emaranhado de sentimentos irá permear a triangulação. Vivendo à sombra
da lembrança da impossibilidade biológica do casal, o adotado também poderá
promover a cessação de uma infertilidade transitória.
Em outros
casos a adoção surge como possibilidade de substituição de um filho morto
criando uma constante comparação e possível ódio inconsciente em relação ao
adotado fazendo com que lhe seja impossível corresponder à uma forte demanda
dos pais adotivos. Uma modificação do Ideal do Ego se faz necessária no desejo
da adoção. Sentimentos inconscientes de culpa em memória ao filho morto e a
ameaça de perda do filho adotado frente à fantasia de ressurgimento dos pais
biológicos podem dificultar a relação dos pais nesse processo.
Um filho
na maioria das vezes representa a extensão de uma relação, o desejo mútuo de
prolongamento dos vínculos e troca biológica do casal dando continuidade à
esses afetos. A filiação simbólica faz parte do processo da construção
subjetiva de cada um e não somente daqueles envolvidos biologicamente fazendo
então com que a adoção seja possível e venha a criar fortes laços parentais
mediante cautela e conhecimento do lugar que o filho irá ocupar no desejo do casal.