Existe um contingente que cresce a cada dia formado por pessoas que decidiram morar só e cada qual com seu argumento transformou essa opção em estilo de vida. Aproximadamente 4 milhões de brasileiros decidiram morar sozinhos. Na verdade viver só tornou-se uma tendência mundial e em geral são pessoas independentes que se instalaram em lares confortáveis onde muitas vezes revelam uma autosuficiência operacional e emocional desconcertantes para quem tenta se aproximar, afirmando não gostarem de “problemas”, que é “ótimo viver sozinho e não precisar dar satisfação à ninguém”. Possuem prontamente uma grande lista de vantagens
16 de julho de 2009
Solidão day by day
10 de julho de 2009
Um breve conto homossexual
Talvez eu devesse explicar de antemão o que se trata aqui. Um email recebido de uma mulher de 32 anos falando sobre suas certezas e, segundo ela, muitas dúvidas acerca de relacionamentos e sexualidade. O nome é fictício e reproduzirei algumas partes do email que me inspirou escrever esse conto.
Joyce, a questão consultada foi enviada para sua caixa postal.
Um abraço.
O email: "Vivi minhas primeiras atrações e desejos na época da adolescência...sonhava com o príncipe...mas me sentia atraída por aqueles que possuíam um aspecto feminino...ou algum traço, jeito...de sacudir os cabelos que me lembrasse uma mulher. Minha primeira experiência sexual com um homem foi um desastre...conheci uma mulher mais velha...me fez a mais linda declaração de amor...debutei em meus amores homossexuais..."
O conto: "Meu nome é Joyce. Tenho 32 anos, vivo nessa eterna condição limítrofe e pareço uma ninfa de mármore em um divisor de águas. Assim... Vivi meus primeiros desejos adolescentes, incandescentes, como toda jovem de minha idade. Sonhava também com o príncipe encantado. Sentia-me, portanto, agitada e muito atraída pelos meninos. Mas percebia que aqueles que me atraíam, tinham algo de feminino, um traço, um sorriso, o jeito de sacudir a cabeça e jogar o cabelo para trás. E essa era a parte que eu mais gostava. A dúvida em saber quem de fato estava ali. Ele ou ela. Menino ou menina. Minha desastrosa primeira experiência sexual foi com um homem bem mais velho. Achei que passaria por esse ritual iniciático e seguiria com a minha vida sem incômodos buscando minha identidade sexual. O outro lado da minha moeda. Terrível. Sem comentários. Mas aos 18 anos uma mulher fez a mais linda declaração de amor que eu havia recebido até aquele momento. Malditas palavras. Ela era diferente. Diferente de mim, de tudo. Sofisticada, tinha um ar de superioridade, algo blasée que escravizava todos nesse olhar. E em meio à uma música hipnótica e círculos de fumaça ela me diria "I'm at heart a gentleman", como Marlene Dietrich. Ali foi o início de meus amores homossexuais.
Hoje entre idas e (bem) vindas e depois de uma ruptura às vésperas do dia dos namorados (e das namoradas!) faço o balanço da minha vida e constato com certo temor que minha identidade é dissociada entre uma parte feminina e outra masculina. Parece que a minha crise de meia idade é precoce. Sim, sim...Tenho ido à um psicanalista. Indicaram um tal de Monsieur Lacan (como é mesmo o primeiro nome dele?) Meu tempo sempre esgota. E monsieur me encerra dizendo que a imagem é engravidada na condição de substituta, digamos, de suplência imaginária do Outro inacessível. Mon Dieu, acho que vou cair...
Encontrar a minha identidade sexual pode ser um longo e difícil caminho. Desejo de todo o coração reconciliar polaridades, permiti-las viver em harmonia e, enfim, começar a fazer minhas verdadeiras escolhas. Enquanto isso vou vivendo e então resolvi escrever esse email pois vivo nessa eterna condição limítrofe. Pareço uma ninfa..."